domingo, 24 de abril de 2011

Sabores e dissabores do envelhecimento.


Eu entrei em crise quando fiz quarenta anos. Nossa! Foi um ano difícil que culminou com uma crise existencial das mais longas que já vivi. Demorou para eu entender que o mundo não acabava ali e que eu apenas atravessava mais uma etapa em minha vida. Que eu podia torná-la mais fácil ou mais difícil. Logo eu, feminista e tão crítica da ditadura da beleza, da juventude eterna e do corpo perfeito. Mas aconteceu e eu me vi muitas vezes diante do espelho sofrendo com as rugas e com o meu corpo,  que  a cada dia eu percebia com suas pequenas transformações.

Passado o pior momento da crise e com uma boa dose de humor, entendi que envelhecer é inevitável e que se para nós mulheres tem um lado sofrido, também tem para os homens. Faz parte do pacote. 
Aprendi a lidar com os meus medos sobre a velhice e encará-los, já que não tem outro jeito. 

Recentemente procurando informações na internet para o meu post desta semana, me deparei com um artigo da antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e escritora Mirian Goldenberg sobre a sua própria crise dos quarenta anos. Ela diz que passada a crise, teve a ideia de formação do grupo Coroas, como forma de criar uma resistência política lúdica, composto por mulheres com mais de 50 anos. Nenhuma de suas amigas quiseram participar do tal grupo. 
Como não consegui, até hoje, viabilizar a existência do grupo Coroas, do programa de televisão ou de qualquer outra ideia semelhante. resolvi que o meu livro mais recente teria como título Coroas. Assim, me assumi publicamente como fundadora, única integrante e militante ativa do grupo Coroas e também apresentei algumas reflexões iniciais sobre o envelhecimento feminino. O título é resultado do questionamento permanente sobre o significado de ser mulher na cultura brasileira e é, também, uma forma de resistência política. Busco desestigmatizar a categoria coroas e combater todos os estereótipos e preconceitos que cercam a mulher que envelhece.
http://miriangoldenberg.com.br/content.php?option=com_content&task=view&id=91&Itemid=106
A expectativa de vida das mulheres mudou muito a vivência do climatério e da menopausa. 
Mulheres como Bruna Lombardi (59), Marilia Gabriela (63), Constanza pascolato (72) e Paula Toler (49) estão em plena atividade sexual, social e profissional.         (Foto:www.cinema.uol.com.br)

Algumas mudanças no corpo feminino são inevitáveis devido à baixa produção de estrogênio: a baixa do tecido conectivo (que provoca as rugas), a desidratação da pele e a ação dos radicais livres, o que incomoda muitas mulheres. Mas há aquelas que não se deixam abater e seguem com os seus projetos, gostando dos seus corpos, convivendo bem com suas imperfeições e mudanças. 

A professora Mirian Goldenberg fez uma pesquisa com brasileiras, alemãs e espanholas para entender como as mulheres de 50 anos se enxergam hoje em dia. O resultado da pesquisa resultou no livro Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade, da editora Record (2008).
Segundo Mirian, o que mais preocupa as brasileiras são a decadência do corpo e os homens. Sobre o corpo a preocupação é com os problemas de saúde e com a aparência. Nessa idade, as mulheres raramente são mais magras, fugindo ao padrão que é valorizado pela nossa sociedade, o que acaba por ser uma problema para muitas. Em relação aos homens, a maior dificuldade é encontrar um parceiro.


Foto: imagem google
Ainda segundo Mirian, há uma diferença enorme entre as alemãs e as brasileiras de 50 anos. As alemãs não estão tão preocupadas com o corpo, a aparência e muito menos com a falta de homens em suas vidas. 
A maior preocupação das alemãs é com a realização profissional, com o poder que conquistaram, com o respeito que sentem com sua inteligência, ideias, personalidade. Não se sentem velhas, mas mais maduras, seguras, confiantes.
Acham falta de dignidade uma mulher querer ser mais jovem do que realmente é. Não se preocupam em ser sexy.

Para as brasileiras, o envelhecimento é vivido como um momento de perda de capital do corpo e da sexualidade. Para as alemãs é um momento de colheita.



E quando as mulheres de 50 são mais felizes? 
Segundo a pesquisadora, "quando tem um projeto
próprio que não começa aos 50, mas muito antes. 
Quando percebem o envelhecimento como uma
continuidade desse projeto e não como uma ruptura ou como um momento de mudanças. 
Quando não aceita as classificações e os estigmas sociais e faz da própria vida uma permanente invenção. Quando gosta do seu corpo com suas
imperfeições e mudanças. Quando não tem preconceitos ou modelos muito rígidos de ser homem e ser mulher, ser velho e ser jovem." 
Foto: Catherine Deneuve (www.gala.fr)


Para encerrar esse post, uma bem-humorada matéria do jornal da Band sobre redescobrir a paixão da vida a dois, depois dos 50 anos. (04/11/2009). Um abraço!


10 comentários:

  1. Gostei das materias. Esclarecedoras. Parabens.

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  2. Oi, Suely,

    Muito legal esse post, pois tenho vivido tudo isso e buscado conversar com as amigas a respeito. Creio que o cuidado com a saúde envolve o cuidado com o nosso corpo, que nos pede maior atenção nessa fase da vida. Mas isso pra seguir feliz,cuidando da gente e levando adiante nossos projetos de vida. Um beijão,Betânia

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  3. Suely, antes de mais nada acho que o site permite uma visão maior do que é realmente essa fase. Tem os aspectos mais gerais do envelhicimento natural e tem questões que se atrelam. Segundo minha irmã não existe mulher feia, existe mulher lisa. Esse é um dos aspectos que precisamos considerar, nossas origens sociais.

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  4. Suely, são através desses sites e blogs, juntamente com conversas com familiares e amigos que me vejo caminhando bem para o amadurecimento.
    Daqui a dois meses estarei com meus 40 anos e realmente sinto que as rugas estão aparecendo, assim como a forma do corpo já não é a mesma, porém me sinto animada cada vez mais.
    Penso que o amadurecimento nos faz ter mais discernimento para a vida.
    Assim, como seu post, vou arquivando aqui no cérebro o positivo. rs
    A Bruna Lombardi vai envelhecendo e ficando cada vez mais linda.
    Boa semana
    Xeros

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  5. Oi Suely, pór um acaso conheço a sua história de luta e já li algo da Mirian Goldenberg. Achei essa matéeria interessante, poder reunir pessoas para discutir questões nos cercam todos os dias é fundamental. Parabéns pela iniciativa. Bjs.

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  6. Sue ...Estabelecer este diálogo com vc e “suas fieis leitoras”, por meio das postagens tem me permitido reflexões muito legais! Acho que estas questões me bateram um pouco atrasadas e só agora aos cinqüenta é que me pegaram de jeito, e ainda estou tratando de lidar com elas da melhor maneira que tenho podido. Fiquei em paz com minha feminilidade e a potencia que ela me conferia também um pouco mais tarde do que a grande maioria das minhas amigas, vestidos, sapatos, menstruação trouxeram momentos de muito prazer... Legal suas buscas e divulgação... Alinho-me com a Godenberg, sobre a importância dos projetos pessoais; eles nos movem na direção da “colheita alemã”, mas o encontro de parceiros é de fato um problema. Se por um lado para as brasileiras, segundo a pesquisadora, o envelhecimento é vivido como um momento de perda de capital do corpo e da sexualidade, os dados da pesquisa do IBGE/ PNAD 2008, mostra um perfil de homem de 50a que separa e busca para o novo momento da sua vida mulheres entre 20 e 30 anos. E vamos combinar nem só de trabalho a gente vive né??? Kkkkkkk
    Nossa escrevi um monte!
    Sigamos caminhando....Entre o sucesso profissional, o amor dos familiares, dos amigos e amigas, filhas(os), netas, os erros e os acertos nesse encontro cotidiano com este tal de climatério...bjssssssssssssss

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  7. Suely, é muito importante essa iniciativa de levar para nós mulheres o conhecimento da saúde. Considerando a saúde numa visão ampliada, diversos aspectos da vida estão a ela relacionados, como a alimentação, o lazer, as condições de trabalho, a moradia,
    a educação/informação e renda, as relações sociais e familiares, a auto-imagem e a auto-estima. Pretendo chegar aos 50 com a minha auto estima bem elevada, e tira de letra esse tal de climatério. Amei o blog, Parabéns! beijos.

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  8. Fico muito feliz ao compartilhar as minhas inquietações e me deparar com tantas mulheres que também tem pensado sobre o envelhecimento. Sobre este caminho que nos leva a ele. Essas reflexões e esses depoimentos mostram que estamos juntas. Agradeço muito sinceramente a todas. Beijos!

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  9. Oi, Suely!
    Muito bons seus posts sobre os temas envelhecimento e climatério. Gostei de tudo que li e vi e convido-a também a ler o que escrevi num outro blog que estou participando, onde fiz um post que fala justamente sobre este momento, o momento de ser feliz.
    Veja aqui:

    http://emquantos.blogspot.com/2011/05/aproveitando-o-ninho.html

    beijos cariocas

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  10. gente, desculpa aí, mais depois dos 60, é só tristeza dor, com tudo, não desanimem todas passam po isso.

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