terça-feira, 27 de março de 2012

Madonna - uma cinquentona

Madonna (Foto: revista QUEM)
A cantora pop apareceu de surpresa no Ultra Music Festival, em Miami, Flórida, no último dia 24 para apresentar um remix do seu novo single, "Girls Gone Wild". O figurino de Madonna como na maioria das vezes era ousado e deixava aparecer partes do seu corpo.
O jornal inglês "Daily Mail" criticou e foi seguido por vários outros que reproduziram as críticas. Quais? Que Madonna usava os cabelos longos para esconder o pescoço e usava luvas para esconder as mãos. Em outras palavras, Madonna estava escondendo as rugas, a velhice. E que a roupa deixava aparecer o bumbum. Que está "na hora" de deixar de usar meia arrastão. Tudo isso, como sabemos, porque Madonna é uma cinquentona. E mulheres de uma certa idade devem ser recatadas e sóbrias no vestir e no comportamento. Tudo invenção de uma sociedade machista. Tudo fruto de uma sociedade que valoriza a juventude e ainda menospreza a velhice, apesar da longevidade presente em muitos países, entre eles o Brasil.
Madonna já vendeu mais de trezentos milhões de discos no mundo inteiro. Segundo a enciclopédia livre, ela é reconhecida como a artista musical feminina mais bem sucedida de todos os tempos pelo Guinesse World Records. Depois de Barbra Streisand é a cantora que mais vende nos Estados Unidos. É considerada uma das melhores artistas de todos os tempos.
E, no entanto, tudo o que o tal jornal inglês consegue falar é de sua bunda e de sua idade. 
Madonna continua linda. E a mídia continua cruel com as mulheres, especialmente com aquelas que passaram dos "enta". Quarenta. Cinquenta. Sessenta...



Madonna recebe críticas afiadas por causa da forma física

sábado, 24 de março de 2012

Muito prazer!

cabaredasideias.com

O tema dos brinquedinhos eróticos de vez em quando volta no blog, seja quando a conversa tem a ver com masturbação, como aqui ou quando o papo é sobre orgasmo
O fato é que vibradores muitas vezes fazem a festa, seja para alimentar a fantasia ou quebrar a rotina de casais ou simplesmente para uma divertida masturbação. 
Essa semana passeando pela internet vi uma matéria no jornal O Diário de Notícias, um periódico de Portugal, sobre um estudo com 3.800 mulheres com idade entre 18 e 68 anos que mostra que a utilização do vibrador promove comportamentos saudáveis e aumenta a cumplicidade entre casais. 
Segundo o link a pesquisa foi publicada no "Journal of Sexual Medicine" e é um estudo de Debra Herbenick, do Centro de Promoção da Saúde Sexual da Universidade de Indiana (Estados Unidos) e conclui que 52% das mulheres entrevistadas admitem já ter usado um vibrador. Dessas, 83% usam o vibrador para estimular o clitóris; 64%  fazem uso do vibrador no interior da vagina.

Entre os dias 22 e 25 de março está acontecendo a 19a edição da Erotika Fair no Paláco do Centro de Convenções do Anhembi, na cidade de São Paulo. Ao que parece é uma grande feira - segundo alguns sites é o maior encontro de negócios do mercado erótico latino e a quarta maior feira do mundo. Eles oferecem de um tudo e esse ano foram destaques as aulas de pompoarismo, dança do ventre e pole dance.
Imagem:Google
Fiquei bastante curiosa, sobretudo, pensando como deve ter sido as aulas de pompoarismo - essa milenar técnica oriental que consiste em contrair e relaxar os músculos vaginais, com a finalidade de obter o prazer sexual. Muito conhecida, as bolinhas tailandesas são usadas para praticar o pompoarismo e obter o domínio da técnica.
É bem recomendada para fortalecer a musculatura do períneo e algumas parteiras falam que ajuda na preparação do canal para o momento do parto. Não sei. Mas se eu estivesse na Erotika juro que ia procurar saber sobre todas as novidades, tirar algumas dúvidas, não somente sobre o pompoarismo, claro.

Uma outra matéria diz que as mulheres são a maioria dos consumidores de produtos sensuais tanto nas lojas físicas como na internet. Elas chegam a atingir o patamar de 68% das compras. E o mais curioso. Veja o que diz a reportagem: "É na venda de produtos eróticos por catálogo que as mulheres se encontraram e consomem sem medo: são 90% dos consumidores, que compram vibradores, cosméticos, lingeries e acessórios. Se engana quem pensa que as compradoras são as mulheres em busca de prazer solitário ou "sacanagem". A pesquisa indica que 84% das consumidoras são casadas ou namoram, e a grande maioria delas, 81%, está no mesmo relacionamento há três anos ou mais. Compram produtos eróticos para comemorar uma data especial com o parceiro, para surpreende-lo ou simplesmente para agradá-lo".

Mesmo assim, é bom que se diga: o vibrador pode ser usado com o parceiro, com a namorada ou se quiser, sozinha. Entre os produtos eróticos você pode escolher gel ou creme estimulante, gel ou creme para sexo oral, lubrificante e os mais diversos tipos de vibrador. Escolha o que mais lhe agrada e boa sorte!

Mulheres lideram o consumo de produtos eróticos no Brasil
De gel a vibrador de ouro

sábado, 10 de março de 2012

Um Tempo Sem Nome

A crônica a seguir foi escrita por Rosiska Darcy de Oliveira e publicada originalmente no jornal O Globo em 21/01/12. Tem muito a ver com as reflexões que fazemos por aqui. Fala sobre novas e modernas formas de envelhecer. A conferir. 

Um Tempo Sem Nome

Com seu cabelo cinza, rugas novas e os mesmos olhos verdes, cantando madrigais para a moça de cabelo de abóbora, Chico Buarque de Holanda vai bater de frente com as patrulhas do senso comum. 
Elas torcem o nariz para mais essa audácia do trovador. O casal cinza e cor de abóbora segue seu caminho e tomara que ele continue cantando "eu sou tão feliz com ela" sem encontrar resposta ao "que será que dá dentro da gente que não devia".

Afinal, é o olhar estrangeiro que nos faz estrangeiros a nós mesmos e cria os interditos que balizam o que supostamente é ou deixa de ser adequado a uma faixa etária. O olhar alheio é mais cruel que a decadência das formas. É ele que mina a autoimagem, que nos constitui como velhos, desconhece e, de certa forma, proíbe a verdade de um corpo sujeito à impiedade dos anos sem que envelheça o alumbramento diante da vida.

Proust, que de gente entendia como ninguém, descreve o envelhecer como o mais abstrato dos sentimentos humanos. O príncipe Fabrizio Salinas, o Leopardo criado por Tommasi di Lampedusa, não ouvia o barulho dos grãos de areia que escorrem na ampulheta. Não fora o entorno e seus espelhos, netos que nascem, amigos que morrem, não fosse o tempo "um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho", segundo Caetano, quem por si mesmo, se perceberia envelhecer? Morreríamos nos acreditando jovens como sempre fomos.

A vida sobrepõe uma série de experiências que não se anulam, ao contrário, se mesclam e compõem uma identidade. O idoso não anula dentro de si a criança e o adolescente, todos reais e atuais, fantasmas saudosos de um corpo que os acolhia, hoje inquilinos de uma pele em que não se reconhecem. E, se é verdade que o envelhecer é um fato e uma foto, é também verdade que quem não se reconhece na foto, se reconhece na memória e no frescor das emoções que persistem. É assim que, vulcânica, a adolescência pode brotar em um homem ou mulher de meia-idade, fazendo projetos que mal cabem em uma vida inteira.

Essa doce liberdade de se reinventar a cada dia poderia prescindir do esforço patético de camuflar com cirurgias de botoxes - obras na casa demolida - a inexorável escultura do tempo. O medo pânico de envelhecer, que fez da cirurgia estética um próspero campo da medicina e de uma vendedora de cosméticos a mais rica mulher do mundo, se explica justamente pela depreciação cultural e social que o avançar na idade provoca.

Ninguém quer parecer idoso, já que ser idoso está associado a uma sequência de perdas que começam com a da beleza e a da saúde. Verdadeira até então, essa depreciação vai sendo desmedida por uma saudável evolução das mentalidades: a velhice não é mais o que era antes. Nem é mais quando era antes. Os dois ritos de passagem que a anunciavam, o fim do trabalho e da libido, estão ambos, perdendo autoridade. Quem se aposenta continua a viver em um mundo irreconhecível que propõe novos interesses e atividades. A curiosidade se aguça na medida em que se é desafiado por bem mais que o tradicional choque de gerações com seus conflitos e desentendimentos. Uma verdadeira mudança de era nos leva de roldão, oferecendo-nos ao mesmo tempo o privilégio e o susto de dela participar.

A libido, seja por uma maior liberalização dos costumes, seja por progressos da medicina, reclama seus direitos na terceira idade com uma naturalidade que em outros tempos já foi chamada de despudor. Esmaece a fronteira entre as fases da vida. É o conceito de velhice que envelhece. Envelhecer como sinônimo de decadência deixou de ser uma profecia que se autorrealiza. Sem, no entanto, impedir a lucidez sobre o desfecho. 

"Meu tempo é curto e o tempo dela sobra", lamenta-se o trovador, que não ignora a traição que nosso corpo nos reserva. Nosso melhor amigo, que conhecemos melhor que nossa própria alma, companheiro dos maiores prazeres, um dia nos trairá, adverte o imperador Adriano em suas memórias escritas por Marguerite Yourcecar.

Todos os corpos são traidores. Essa traição, incontornável, que não é segredo para ninguém, não justifica transformar nossos dias em sala de espera, espectadores conformados e passivos da degradação das células e dos projetos de futuro, aguardando o dia da traição. Chico, à beira dos setenta anos, criando com brilho, ora literatura, ora música, cantando um novo amor, é a quintessência desse fenômeno, um tempo da vida que não se parece em nada com o que um dia se chamou de velhice. Esse tempo ainda não encontrou seu nome. Por enquanto podemos chamá-lo apenas de vida.

Rosiska Darcy de Oliveira é escritora.

O novo amor de Chico a que Rosiska se refere no texto é a cantora Thais Gulin, que aparece na música Essa Pequena, como você pode verificar: