Eu entrei em crise quando fiz quarenta anos. Nossa! Foi um ano difícil que culminou com uma crise existencial das mais longas que já vivi. Demorou para eu entender que o mundo não acabava ali e que eu apenas atravessava mais uma etapa em minha vida. Que eu podia torná-la mais fácil ou mais difícil. Logo eu, feminista e tão crítica da ditadura da beleza, da juventude eterna e do corpo perfeito. Mas aconteceu e eu me vi muitas vezes diante do espelho sofrendo com as rugas e com o meu corpo, que a cada dia eu percebia com suas pequenas transformações.
Passado o pior momento da crise e com uma boa dose de humor, entendi que envelhecer é inevitável e que se para nós mulheres tem um lado sofrido, também tem para os homens. Faz parte do pacote.
Aprendi a lidar com os meus medos sobre a velhice e encará-los, já que não tem outro jeito.
Recentemente procurando informações na internet para o meu post desta semana, me deparei com um artigo da antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e escritora Mirian Goldenberg sobre a sua própria crise dos quarenta anos. Ela diz que passada a crise, teve a ideia de formação do grupo Coroas, como forma de criar uma resistência política lúdica, composto por mulheres com mais de 50 anos. Nenhuma de suas amigas quiseram participar do tal grupo.
Como não consegui, até hoje, viabilizar a existência do grupo Coroas, do programa de televisão ou de qualquer outra ideia semelhante. resolvi que o meu livro mais recente teria como título Coroas. Assim, me assumi publicamente como fundadora, única integrante e militante ativa do grupo Coroas e também apresentei algumas reflexões iniciais sobre o envelhecimento feminino. O título é resultado do questionamento permanente sobre o significado de ser mulher na cultura brasileira e é, também, uma forma de resistência política. Busco desestigmatizar a categoria coroas e combater todos os estereótipos e preconceitos que cercam a mulher que envelhece.
http://miriangoldenberg.com.br/content.php?option=com_content&task=view&id=91&Itemid=106
A expectativa de vida das mulheres mudou muito a vivência do climatério e da menopausa.
Mulheres como Bruna Lombardi (59), Marilia Gabriela (63), Constanza pascolato (72) e Paula Toler (49) estão em plena atividade sexual, social e profissional. (Foto:www.cinema.uol.com.br)
Algumas mudanças no corpo feminino são inevitáveis devido à baixa produção de estrogênio: a baixa do tecido conectivo (que provoca as rugas), a desidratação da pele e a ação dos radicais livres, o que incomoda muitas mulheres. Mas há aquelas que não se deixam abater e seguem com os seus projetos, gostando dos seus corpos, convivendo bem com suas imperfeições e mudanças.
A professora Mirian Goldenberg fez uma pesquisa com brasileiras, alemãs e espanholas para entender como as mulheres de 50 anos se enxergam hoje em dia. O resultado da pesquisa resultou no livro Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade, da editora Record (2008).
Segundo Mirian, o que mais preocupa as brasileiras são a decadência do corpo e os homens. Sobre o corpo a preocupação é com os problemas de saúde e com a aparência. Nessa idade, as mulheres raramente são mais magras, fugindo ao padrão que é valorizado pela nossa sociedade, o que acaba por ser uma problema para muitas. Em relação aos homens, a maior dificuldade é encontrar um parceiro.
Foto: imagem google
Ainda segundo Mirian, há uma diferença enorme entre as alemãs e as brasileiras de 50 anos. As alemãs não estão tão preocupadas com o corpo, a aparência e muito menos com a falta de homens em suas vidas.
A maior preocupação das alemãs é com a realização profissional, com o poder que conquistaram, com o respeito que sentem com sua inteligência, ideias, personalidade. Não se sentem velhas, mas mais maduras, seguras, confiantes.
Acham falta de dignidade uma mulher querer ser mais jovem do que realmente é. Não se preocupam em ser sexy.
Para as brasileiras, o envelhecimento é vivido como um momento de perda de capital do corpo e da sexualidade. Para as alemãs é um momento de colheita.
E quando as mulheres de 50 são mais felizes?
Segundo a pesquisadora, "quando tem um projeto
próprio que não começa aos 50, mas muito antes.
Quando percebem o envelhecimento como uma
continuidade desse projeto e não como uma ruptura ou como um momento de mudanças.
Quando não aceita as classificações e os estigmas sociais e faz da própria vida uma permanente invenção. Quando gosta do seu corpo com suas
imperfeições e mudanças. Quando não tem preconceitos ou modelos muito rígidos de ser homem e ser mulher, ser velho e ser jovem."
Foto: Catherine Deneuve (www.gala.fr)
Para encerrar esse post, uma bem-humorada matéria do jornal da Band sobre redescobrir a paixão da vida a dois, depois dos 50 anos. (04/11/2009). Um abraço!