quarta-feira, 16 de março de 2011

O desejo por sexo.

Há quase dois anos decidi assumir os meus cabelos brancos. Cansei de me olhar no espelho e me deparar com uma mulher perto dos cinquenta anos querendo uma aparência de... trinta e cinco.
Foi um decisão bem difícil, mas me tomei de coragem e disse: "Chega! Não quero mais isso!"
Essa ditadura da beleza que leva as mulheres - os homens em menor escala - a fazerem cirurgias plásticas, lipoaspiração e todo tipo de tratamento para aparentar anos a menos do que se tem, eu decididamente, não quero pra mim.
Essa semana lendo a matéria "A idade da convicção" na revista Carta capital (www.cartacapital.com.br) pensei em tudo isso.
Na revista, de forma bem-humorada, Isabella Rosselini fala sobre a sua trajetória de vida e nos presenteia com uma reflexão acerca da maturidade. Além de presidente do júri da mostra competitiva do festival de Berlim Isabella é também a protagonista do filme "Late Bloomers", onde ela faz o papel de Mary, uma mulher que começa a sentir os sinais da velhice e tenta se adaptar à nova condição procurando se cuidar e estabelecer uma meta social. Na foto abaixo, cena do filme "Late Bloomers" da diretora Julie Gavras, Isabella Rosselinni com com William Hurt (ultimosegundo.ig.com.br)
Como muitas de nós, a atriz, diretora e ex-modelo da Lancôme que está perto de completar 59 anos, está envelhecendo e resolveu assumir tranquilamente as suas rugas. Ela diz: "Não quero ser jovem , ou ser considerada como tal. Quero sempre ser sofisticada, isso sim, aparentar a idade que tenho e não ouvir que pareço mais jovem do que sou."
Isso me emocionou muito. Tenho lido algumas entrevistas, matérias e notas sobre o filme "Late Bloomers" que aguardo ansiosamente para assistir. É uma comédia dramática que fala sobre a velhice.
Aqui no blog tenho procurado fazer uma discussão também sobre o envelhecimento, pois o climatério e a menopausa é um indício de aproximação da maturidade. E para nós mulheres, é ainda mais difícil lidar com a velhice. Vivemos em um cultura que ainda descarta o que é velho, que valoriza a aparência e, portanto, alia a beleza à juventude. Envelhecer é sair do foco.
Por isso, quero dialogar sobre os mitos do climatério e da menopausa.
A vida sexual da mulher madura ou da mulher velha é ainda tratada de forma muito preconceituosa. Dependendo da idade é quase obsceno falar em desejo, gozo e prazer.
Na foto ao lado, Meryl Streep em cena do filme "O Diabo Veste Prada"

Mas, o que sabemos é que na verdade a vida sexual, o desejo por sexo, pelo prazer não tem idade para acabar.
Como no conto "Ruído de Passos" (A Via Crucis do Corpo, Clarice Lispector):
Tinha oitenta e um anos de idade. Chamava-se dona Cândida Raposo.
Essa senhora tinha a vertigem de viver. A vertigem se acentuava quando ia passar dias numa fazenda: a altitude, o verde das árvores, a chuva, tudo isso a piorava. Quando ouvia Liszt se arrepiava toda. Fora linda na juventude. Tinha vertigem quando cheirava profundamente uma rosa.
Pois foi com dona Cândida Raposo que o desejo do prazer não passava.
Teve, enfim, a grande coragem de ir a um ginecologista. E perguntou-lhe envergonhada, de cabeça baixa:
-Quando é que passa?
-Passa o quê, minha senhora?
-A coisa.
-Que coisa?
-A coisa, repetiu. O desejo de prazer, disse enfim.
-Minha senhora, lamento lhe dizer que não passa nunca.
Olhou-a espantada.
-Mas eu tenho oitenta e um anos de idade!
-Não importa, minha senhora. É até morrer.
-Mas isso é o inferno!
-É a vida, senhora Raposo.
A vida era isso, então? essa falta de vergonha?
-E o que é que eu faço? ninguém me quer mais...
O médico olhou-a com piedade.
-Não há remédio, minha senhora.
-E se eu pagasse?
-Não ia adiantar de nada. A senhora tem de se lembrar que tem oitenta e um anos de idade.
-E... e se eu me arranjasse sozinha? O senhor entende o que eu quero dizer?
-É, disse o médico. Pode ser um remédio.
Então saiu do consultório. A filha esperava-a embaixo, de carro. Um filho Cândida Raposo perdera na guerra, era um pracinha. Tinha essa intolerável dor no coração: a de sobreviver a um ser amado.
Nessa mesma noite deu um jeito e solitária satisfez-se. Mudos fogos de artifícios. Depois chorou. Tinha vergonha. Daí em diante usaria o mesmo processo. Sempre triste. É a vida, senhora Raposo, é a vida. Até a bênção da morte.
A morte.
Pareceu-lhe ouvir ruído de passos. Os passos de seu marido Antenor Raposo.

11 comentários:

  1. Olá Suely,
    Concordo quando você diz que devemos assumir nossa idade sem nos desprezar. Assumi meus cabelos brancos e mesmo assim escuto, que não pareço ter a idade que tenho. Estou vivendo o septuagésimo ano.
    Gostei da sua postagem.
    Beijos.
    Maria Luiza (lulú)

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  2. oi Suely, não sei se pela chegada do meu aniversário (4.2 na sexta feira) ou pelo fato de me olhar no espelho e querer morrer com tanto cabelo branco... mas o fato é adorei o texto.
    envelhecer não é fácil. na nossa sociedade que só espera o belo e o jovem, então, é uma dureza.
    ainda não alcancei a felicidade com meus fios brancos. mas quando compro tinta, shampoos e outros acessórios, fica sempre a dúvida cruel: eu preciso mesmo disso?

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  3. Pois, mulheres! Não é uma decisão fácil, porque implica uma mudança de atitude. A cobrança social é muito grande e, mesmo amigas feministas olhavam de soslaio sem entender e quase com dó de mim. Continuo cuidando e gostando muito de mim, so que agora uso shampoo para cabelos grisalhos... Do ponto de vista da minha libido, tenho tido surpresas maravilhosas. Sexo não tem idade... Um abraço e obrigada por enriquecer a discussão com os comentários de vocês. Beijos!

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  4. Que bom que amar, desejar e ser feliz não tem idade. Escuto minha avó de 82 anos , que usa seu shampo cinza para cabelos brancos, olhar pela janela de sua cozinha esonha...olhando a montanha acredita ainda com um grande amor e lembra de um q deixou passar na sua juventude.Vejo nela brilhar a luz da esperança da paixão nunca vivida de verdade.E isso acalenta seu coração...

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  5. Acho lindo! Quando ficar mais velha vou super usar o cabelo branco, mais curto assim.

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  6. Tema polêmico e excitante, minha cara. Também nunca persegui esse ideal de juventude eterna, nem aos 30, nem aos 40 e espero me manter assim aos 50, 60... Busco ser o que sou, da melhor forma possível. Uma das coisas que me fez mudar muito com a maturidade, foi aceitar o meu corpo como ele é, em sua essência. Da adolescência à juventude, sonhava e lutava arduamente para ser magra... Hoje, percebi que tenho outros objetivos, e aceito carinhosamente o meu tipo físico. Não quero mais ser magra, sou gordinha e mantenho esse padrão físico cuidando de minha saúde. A idade me trouxe essa tranquilidade. Quanto à libido, acho que sexo pode ser prazeroso em qualquer idade. Nós mulheres, somos privilegiadas pela Natureza. Acho que a velhice é muito mais cruel para os homens, quando o assunto é sexo.

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  7. A libido é uma mistura de fatores físicos e psicológicos. Tem a ver com desejo, fonte de energia. Na psicanálise, é a energia psíquica que direciona a pessoa na busca de pensamentos e comportamentos prazeirosos. Por isso, é importante sonhar, Thais. Ainda que seja relembrando o passado. Obrigada pela contribuição! Um beijo na sua avó.

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  8. Priscilla, que bom... tenho curtido os meus cabelos brancos e estou me preparando para um corte mais moderno o que farei na próxima semana. Beijo. Obrigada por deixar uma blogueira feliz com o seu comentário! :)

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  9. Vania, belíssimo depoimento. Tenho pensado que o sofrimento pela ditadura da beleza, a partir de um modelo ideal (branca, magra, jovem...) leva as mulheres a um sofrimento desde a mais tenra idade. Agora, com o climatério preciso perder peso por uma questão de saúde. O acúmulo de gordura nesse período da vida é um risco pra infarto. E aí caminho na praia, unindo o útil ao agradável. Sem estresse. Um beijo e muito obrigada pelo comentário.

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  10. "Não quero ser jovem , ou ser considerada como tal. Quero sempre ser sofisticada, isso sim, aparentar a idade que tenho e não ouvir que pareço mais jovem do que sou." Eu penso exatamente como Isabella Rosselini. Tenho 65 anos...assumo meus cabelos prateados e minhas rugas. Acredito que a melhor cirurgia plastica é uma gargalhada por dia... faço caminhadas, uso cremes especiais pra pele madura e procuro ser feliz que isso mantem os medicos longe.LOL
    bjs

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  11. É isso aí! Eu também quero aparentar a idade que eu tenho. Nem a mais e nem a menos. Mas como é difícil! Obrigada pela contribuição. Beijos

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