É difícil falar sobre envelhecimento. A simples menção à palavra deixa muita gente incomodada.
Essa semana postei uma foto no meu avatar do facebook e dei o título "envelhecer". Gosto da foto. Ela mostra as minhas rugas e o meu cabelo branco. Como vocês viram
AQUI e
AQUI, tenho investido em envelhecer com tranquilidade e tentando amar as minhas rugas de expressão e dos sinais do tempo.
Nada contra quem anda em busca da eterna juventude, mas não é o meu caso. Não sou uma garota, já faz muito tempo. Vivi a minha adolescência e a minha juventude no seu devido momento. Agora sou uma mulher madura, que na faixa dos cinquenta anos vem tentando conviver harmoniosamente com o processo de envelhecimento. E eu gosto do que vejo.
Recentemente li uma entrevista de Rita Lee na revista
Marie Claire, falando entre outras coisas, sobre a velhice e o quanto isso a tem incomodado. A maior roqueira do Brasil assume que mente sobre a idade - de 65 para 67 - para parecer mais conservada. Na entrevista, ao ser questionada sobre de qual tabu feminino ela falaria nos dias de hoje, Rita Lee é enfática: "Do envelhecimento". Ela diz que "Para envelhecer com dignidade a mulher tem que ter muito desapego". Daí ela vai falando sobre como é se sentir mais jovem (minha cabeça está registrada com dezessete anos) e na verdade ter 65 anos.
Lembrei do filme
O Retrato de Dorian Gray, baseado no livro homônimo de Oscar Wilde. A história se passa em Londres e Dorian Gray (Ben Barnes) é um jovem bonito que é apresentado à sociedade local por Henry Wotton (Colin Firth). Um artista se propõe a pintar o retrato de Dorian e capturar a sua beleza jovial. Quando vê o quadro, Dorian faz uma promessa que daria tudo, até mesmo sua alma, para permanecer para sempre com aquela imagem retratada no quadro. A partir daí, ele não envelhece mais e tudo que ele faz se transfere para o retrato que vai ficando horrível, pelos sinais do tempo e com as atrocidades que ele comete. Resumindo: Dorian esconde o retrato no sótão, até que um dia ele destroi a pintura, matando a si próprio.
Na revista Criativa, a matéria "O medo de envelhecer", de
Danielle Sanches fala sobre a síndrome da age-orexia, que é a "obsessão extrema e pouco saudável por parecer-se jovem, mesmo que você ainda não tenha chegado à casa dos trinta". Ainda na matéria, a autora nos fala que a age-orexia não é uma doença, como a anorexia e a bulimia, por exemplo, mas trata-se de um alerta importante para alertar as mulheres que insistem em lutar contra o envelhecimento. Ela diz que é uma combinação das palavras em inglês, age que significa idade e orexia que é sinônimo de desejo, vontade.
Veja trecho da matéria:
Segundo dados da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética, ASAPS, sigla no original em inglês, só em 2007, nos Estados Unidos, foram realizados cerca de 9,6 milhões de procedimentos não-invasivos, ou seja, sem intervenção cirúrgica. As mulheres representam mais de 90% desse número. Do total, 21% ocorreram em mulheres com idade entre 19 e 34 anos; e 2%, ou cerca de 19 mil, em meninas com 18 anos ou menos. Trata-se de um índice 754% maior do que o de uma década atrás. As injeções de toxina botulínica, o Botox, é o campeão dos procedimentos não-invasivos, com mais de 2,7 milhões de aplicações no ano passado.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) não tem dados tão precisos, mas os médicos garantem: a freqüência de mulheres jovens querendo prevenir o envelhecimento aumentou. Em 2004, ano do último levantamento realizado pela SBCP, o procedimento mais realizado foi a lipoaspiração. Mas, confesse, você também tem uma ruguinha de preocupação ao pensar nos sinais que o tempo causa. Segundo a psicanalista Dorli Kamkhagi, coordenadora de grupos do envelhecimento no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, esse medinho faz parte de uma auto-estima até saudável. “O problema é quando se torna obsessão, impedindo o desenvolvimento pessoal”, diz.
É desse jeito. A pressão social, os padrões, os modelos de beleza que reforçam o mito da eterna juventude. E muitas mulheres - e homens, também - caem na armadilha de preencher todas as rugas com toxina botulímica e ácido hialurônico, muitas vezes perdendo a própria expressão congelada em sorrisos endurecidos por essas substâncias. O sonho da lipoaspiração também às vezes se transforma em pesadelo.
Enquanto isso, a vida segue e como dizia a minha mãe, "Só envelhece quem está vivo".
Ah, e antes que eu esqueça, aí vai a tal foto que falei no começo do post:
Para finalizar, deixo esse poema que é a música Sonhos não envelhecem.